Mulheres são maioria no Legislativo de São João do Manhuaçu, na Zona da Mata, e têm pretensão de conquistar a presidência da Casa no ano que vem e a prefeitura em 2012
Ricardo Beghini
Ricardo Beghini
Marlene (PT), Marineusa (PP), Lucilene (PR), Sueli (PSDB) e Malvina (PSL) dizem que se entendem sobre o interesse da população
Em pelo menos uma cidade mineira os partidos não enfrentam dificuldades para conseguir mulheres candidatas. Em São João do Manhuaçu, na Zona da Mata, elas são maioria na Câmara.
Dos nove vereadores, cinco são mulheres no único município de Minas onde elas têm a supremacia no Legislativo. E planejam ir além. É provável que uma delas assuma a presidência da Casa em 2011 e outra dispute a prefeitura em 2012.
“Diferentemente dos homens, que são mais racionais, as mulheres trabalham e agem com o coração”, diz Marineusa Vieira Cardoso (PP), vice-presidente da Câmara e forte candidata a assumir o posto maior do Legislativo, hoje sob o comando do vereador Elias Mariano (PHS). Casada, mãe de uma filha, ela lembra que alguns projetos aprovados no município tiveram o toque feminino, como o da criação de uma guard a mirim atendendo 150 crianças e construção de uma creche na zona rural do municípío, de 10 mil habitantes.
“Vale a pena participar da política, porque é uma forma de ajudar outras pessoas”, enfatiza. Já a vereadora Maria Sueli Tavares (PSDB), auxiliar de enfermagem e primeira-secretária da Mesa, conseguiu incrementar um projeto pessoal de possibilitar às mulheres carentes do município o acesso gratuito à cirurgia de ligadura de trompas, contribuindo para o controle da natalidade. “Com o poder de uma vereadora, fica mais fácil”, assinala ela, que, aproveitando seu prestígio político, abriu as portas de clínicas e hospitais de cidades polo da região para interessadas no método de esterilização feminina. Outro projeto importante foi a criação do Conselho de Desenvolvimento do Setor de Confecções, que levou dezenas de mulheres a cursos profissionalizantes na vizinha Muriaé. A autora da iniciativa, a vereadora Lucilene Ornelas (PR), é a parlamentar mais experiente da Casa e cumpre o segundo mandado.
“Por ser mulher, tenho mais liberdade de lidar com as eleitoras. Muitas vezes, trabalho como psicóloga”, diz ela, que vai se formar em pedagogia. Lucilene entrou para a política por causa do marido, que também foi vereador por dois mandatos, mas resolveu se dedicar ao comércio, transferindo os votos para a mulher. “Meu trabalho teve reflexos, incentivando outras mulheres a entrar para a política”, avalia.
A pioneira do Legislativo municipal, no entanto, foi a vereadora Márica de Almeida (1993-1996). Depois dela, somente Juliana Miranda (1997-2000) se aventurou na política, mas renunciou ao cargo para trabalhar num banco. Na atual legislatura, a vereadora Lucilene faz parte da bancada de oposição ao prefeito João Batista Gomes (PSDB), assim com as parlamentares Marlene de Souza Dornelas (PT) e Malvina Luiza Florenço (PSL). Embora estejam divididas em dois grupos, as vereadoras, na maioria das vezes, se entendem quando está em jogo o interesse da coletividade. “O diferencial deste Parlamento é entendimento”, conta a petista Marlene, de 47 anos. Casada, mãe de três filhos, professora e líder comunitária do distrito de Pontões, Marlene lamenta que no restante do país o poder ainda não esteja distribuído equilibradamente entre os sexos.
“Muitas mulheres não sabem que a política promove o bem-estar da população”, ressalta. A petista, assim como a vereadora Malvina Luiza Florenço (PSL), entretanto, entende que as mulheres da oposição não estão tendo vida mansa por parte do Executivo. “O prefeito não atendeu nenhuma indicação minha”, reclamou Malvina. A parlamentar, de 43 anos, enfermeira e secretária de Saúde da gestão passada, diferentemente das companheiras, está decepcionada com a política e avalia que a Casa poderia ter ajudado muito mais o município se tivesse as reivindicações atendidas pelo prefeito.
“Estamos aqui para votar pela qualidade de vida da população”, disse ela, que já fala em abandonar a política para se dedicar exclusivamente à profissão. Bravas e exigentes O presidente da Câmara, Elias Mariano (PHS), destaca a participação feminina.
“Sou um privilegiado de trabalhar com cinco vereadoras. Nossa cidade é única de Minas onde isso ocorre”, disse.
Segundo ele, as mulheres da Casa são mais bravas e exigentes que os homens.
“Tem o lado delicado da mulher, que é preciso saber conduzir”, ressalta ele, que, por outro lado, desconversa ao ser perguntado se já percebeu quando uma ou outra colega estava de TPM (Tensão Pré-Menstrual). O prefeito João Batista Gomes, o João Carolino, confirma que um Legislativo com supremacia feminina exige capacidade maior de diálogo do Executivo.
“É preciso dar mais explicações”, assinala ele, que exerce o terceiro mandato. Ele entende que o fenômeno político de São João do Manhuaçu pode ser explicado pelo grau de escolaridade das vereadoras. Das cinco, duas atuam na área de enfermagem e três na educação.
“Os homens são bom líderes, mas não têm escolaridade e têm dificuldade de se expressar”, avalia ele, que é professor e contador. O Executivo se defende das críticas de que não estaria atendendo os pedidos das parlamentares. De acordo com o prefeito, a crise financeira ainda gera reflexos agudos nos cofres municipais, que, este mês, tiveram queda de R$100 mil no repasse do Fundo do Participação dos Municípios (FPM), comparado a fevereiro.
“Atendo, dentro do possível, todas as indicações, mas não dá para calçar todas as ruas”. Na Praça São João Batista, em frente à igreja matriz, as opiniões são divergentes sobre a Câmara com mais estrogênio que testosterona.
“Acho que, em qualquer parte, o homem desenvolve um trabalho melhor que a mulher”, disse o lavrador Itamar José Duque, de 55 anos, sem se preocupar de ser rotulado de machista. Ao lado dele, José Esmero Raimundo concorda e amplia o pensamento do companheiro de profissão.
“Acredito que o homem é mais fácil de lidar. No futuro, elas vão se arrepender da política”, completou. Já o aposentado Paulo Dornellas, de 74, avalia positivamente o crescimento da participação feminina na vida pública. Embora pondere que ainda esteja cedo para avaliar o trabalho das cinco vereadores, Paulo crê que elas farão bom mandato. “A família, que é sagrada, começa pela mulher”, disse.
O lavrador José Márcio Garcia, de 39, considera que as mulheres têm mais tino para a área social.
“Elas acrescentarão grandes ideias”, conclui.
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