Senhor Senador,
Nos idos de 1961 eu já percorria o Brasil como membro do CPC da UNE lutando pela Reforma Agrária, pela defesa dos direitos trabalhistas, por um maior acesso a cultura a todos os brasileiros e em defesa da democracia libertária, fraterna e igualitária. Desde então tenho pautado a minha conduta, a minha prática, a minha militância.
Porém, neste momento, ante o pronunciamento machista e racista do senador Demóstenes Torres, eu como militante político desde os idos de 50, como presidente do PMDB Afro, e também, como presidente do SATED/RJ, venho pela presente expressar o meu protesto e lamentar profundamente ter dedicado a minha juventude em prol da luta pela democratização deste país e continuar contribuindo para o seu desenvolvimento econômico e cultural.
Um senador de república, com este pronunciamento nos mostra a face oculta que se desvenda, perversa, excludente, racista e antidemocrática: A face dos defensores da exclusão dos não iguais, da exclusão e da desqualificação dos que não fazem parte de sua casta.
É profundamente lamentável que um senador para contestar a afirmação de que....” a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro.....” declare que “as negras estupradas no Brasil o foram de forma consensual”. O Senador Demóstenes esquece que não existe forma consensual quando se tem de um lado um homem e do outro uma mulher; de uma lado uma escrava e do outro lado o senhor; de um lado o dominador e do outro o dominado. Lembre-se senador que as escravas negras estavam sujeitas a açoites, a ser mutiladas, a ser vendidas e apartadas dos seus filhos.
DEDUZIMOS DA AFIRMAÇÃO DO SENADOR, QUE TODAS AS MULHERES NEGRAS ESTUPRADAS NO REGIME ESCRAVAGISTA ERAM PROSTITUTAS.
É um desrespeito a memória dessas mulheres e uma negação das práticas escravagistas, que negava o mínimo de Direitos Humanos aos negros escravos.
O Senador também afirma que os africanos construíram a sua economia, hoje esfacelada e mantida refém dos interesses necoloniatas, com os lucros da escravidão. Como se a instituição escravidão fosse uma criação das inúmeras nações africanas e não um empreendimento comercial das metrópoles européias e suas colonias americanas.
O senador foi grosseiro, equivocado historicamente e desrespeitoso com as mulheres e com a causa negra. Faz assim coro com aqueles que afirmam que a escravidão foi uma criação dos negros e que não existiram maus tratos, assassinatos e torturas nos porões e masmorras do regime.
Nós negros e mestiços que representamos 57% da população brasileira podemos, a partir deste pronunciamento, encarar o senador Demóstenes como INIMIGO DA CAUSA NEGRA.
Se essa é a base do seu discurso e do discurso do seu partido contra as reivindicações da população negra e contra as políticas afirmaticas, só cabe a nós, NEGROS discriminados e ofendidos, envidar esforços e atuar no universo político eleitoral no sentido de inviabilizar a sua pretensão de retornar ao parlamento como representante do povo.
Sirvo-me pois desta introdução para expressar o meu apoio incondicional a carta de repúdio em anexo, assinada pelos Conselheiros e Conselheiras do CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL (CNPIR)
Rio de Janeiro, 8 de março de 2010 (DIA INTERNACIONAL DA MULHER)
Jorge Coutinho
Presidente do PMDB Afro
Presidente SATED/RJ
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